O governo indica que crianças e adolescentes estariam expostos a risco real de traumas emocionais por conviverem com pessoas em situação de vulnerabilidade.
Nos últimos dias, o abrigo emergencial montado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) no ginásio do Centro Interescolar de Educação Física (Cief), 907 Sul, voltou ao foco das atenções e não por seu acolhimento, mas por uma prática considerada controversa. O desfile de saída dos moradores de rua acontece por volta das 6h, mesmo nas horas mais frias da manhã.
A Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) ajuizou um pedido para postergar a saída dos acolhidos até as 7h, horário que melhor protegeria contra a exposição ao frio intenso. A ação civil pública destaca que expulsar essas pessoas às 6h as obriga a encarar as condições mais geladas do dia.
Por meio de um recurso, o GDF recorreu da decisão judicial. A justificativa oficial é que, a partir das 7h15, o Cief começa a receber estudantes de 4 a 12 anos o convívio entre crianças e adultos em situação de vulnerabilidade seria “potencialmente traumático” e “risco sanitário”. Adicionalmente, houve menção a possíveis efeitos de substâncias psicoativas entre alguns acolhidos.
O abrigo opera das 19h às 6h, recebendo até 110 pessoas por noite, incluindo idosos (cerca de 20%) e muitos que retornam várias vezes. A estrutura oferece colchão, cobertores, higiene, banho quente, alimentação café da manhã e jantar .
Segundo dados da Sedes‑DF, o abrigo noturno é parte de um plano mais amplo para proteger quem vive nas ruas durante o frio, também contemplando ações de reintegração social e trabalho.
Turbulência à vista
O Tribunal de Justiça do DF já havia emitido uma decisão provisória proibindo a saída dos abrigados antes das 7h justamente para evitar exposição ao frio, mas o GDF apresentou recurso com os argumentos mencionados.
A polêmica gira em torno de dois valores: proteção ao vulnerável e segurança de crianças. Enquanto a Defensoria defende que a saída tardia é crucial para a saúde dos sem-teto, o GDF prioriza a segurança sanitária dos estudantes. O recurso está nas mãos da Justiça e o desfecho pode impactar a convivência entre políticas públicas e grupos vulneráveis durante o inverno.
Fonte: Metrópoles